Alda Sousa, jornalista free-lancer luso-moçambicana conduziu uma entrevista telefónica com Albano Pedro cujo teor foi solicitado antes da sua publicação pelo entrevistado que retoma para o seu blogue com a devida vénia. A mesma pretende descortinar a visão do entrevistado sobre o ambiente político em Angola em vista as eleições de 2012 que se avizinham, para além de outros aspectos da vida social, política e económica que os angolanos vivem de uma maneira geral. Eis o teor:
ALDA SOUSA: Aproximam-se as eleições de 2012 que colocará fim ao actual mandato legislativo. Que balanço faz?
ALBANO PEDRO: O mandato em curso é uma tentativa falhada dos angolanos de se reencontrarem atravéz de um verdadeiro relançamento da democracia, do diálogo franco e aberto entre as diversas forças políticas e sociais, da tolerância política e da aplicação dos mecanismos de transparência na governação. Fez-se alguma coisa no domínio da implementação de projectos públicos: a continuação das obras e de muitos outros projectos públicos. Mas, é claro que o povo, de uma maneira geral, ainda ressente das falhas de uma governação pouco atenta aos questões sociais com todos os problemas “endémicos” bem patentes como a falta de distribuição sustentada da água e da energia electrica bem como a fraca capacidade de produção existente ante a rápida espanção das cidades em todo o território nacional. Na verdade há ainda muita coisa em falta para que se fale em condições mínimas para um verdadeiro relançamento económico e social dos angolanos. Do ponto de vista político cometeram-se erros craços, um pouco fruto do desespero do actual titular do Executivo no controlo do poder: a alteração da Lei Constitucional favorecendo a reeleição do actual Presidente e a supressão das eleições presidenciais; a manipulação do processo eleitoral bem como a falta de consenso induzido para a aprovação do pacote legislativo eleitoral; a injustificável contenção e matrato dos activistas ligados as manifestações populares; a corrupção generalizada, o elevado índice de desemprego e a subida vertiginosa dos níveis de pobreza...São erros que hão de despoletar mais tarde ou mais cedo um ambiente de descontentamento generalizado de contornos imprevisíveis no seio do povo angolano. Portanto, o mandato de 2008 tem criado as condições para uma desarmonização política e social dos angolanos e para a insustentabilidade do mandato político após as eleições da 2012.
AS: Que mudanças significativas prevê com as próximas eleições?
AP: Mudanças significativas? Nenhumas. Haverão obviamente algumas mudanças induzidas pelo próprio percurso histórico. Mas a maioria deles serão mudanças negativas, para não dizer dramáticas. Prevejo por exemplo, que os partidos políticos com assento no parlamento terão os números de deputados reduzidos se se mantiverem nele, o MPLA poderá vir a ter uma maioria com números de assentos que venham a superar os actuais. Isso quer dizer que o povo vai abster-se de votar em massa por descrédito da política e vai favorecer a mobilização de militantes que o MPLA tem feito para o registo eleitoral. Por falta de motivação, muitos angolanos não terão o registo actualizado e não poderão votar enquanto que os que tiverem o registo actualizado poderão não ter à quem votar. Portanto, prevejo uma grande dificuldade na promoção da alternância política e uma vitória com maioria esmagadora do MPLA que vai atrapalhar a sua própria governação e vai precipitar a sua própria queda daí em diante. Por isso, o partido no poder também tem de estar preocupado com este quadro porque não vai favorecer a nada e nem a ninguém!
AS: É de lei que os partidos políticos que não concorreram em 2008 e não volteram a concorrer nas proximas eleições desaparecerão do cenário político. Como visualiza a participação política dos cidadãos?
AP: Embora estejamos diante de uma previsão normativa inconstitucional, o facto é que o mercado político-partidário vai registar a pior recessão de sempre com a verredura de mais de 80% das forças político-partidárias existentes. O desespero poderá sugerir muitas coligações partidárias mas o desastre é inevitável. De todo o modo, era de esperar um momento em que os partidos políticos fossem postos a prova ante a letargia em que a maioria se encontra. Era de esperar um verdadeiro saneamento político que promova um clima de maior participação de cidadãos honestos e interessados pelo bem comum na política despromovendo aqueles que fazem da política um palco de oportunidades pessoais para o auto-sustento e enriquecimento a custo do erário público.
AS: Angola é o país que mais cresce economicamente. Como explica o alto indice de pobreza que se vive e os grandes problemas com a saúde, educação...?
AP: A corrupção e a distribuição injusta das oportunidades e da riqueza estão na linha da frente para explicar a nossa desgraça. Mas atenção: os economistas dizem que crescimento não é desenvolvimento, o que não devo deixar de admitir não só por ignorar tais matérias como por ver nesta diferenciação uma verdade evidente. Crescer significa aumentar a produção de bens e serviços abrangendo progressivamente áreas sociais e económicas anteriormente não atingidas. Há países que já não crescem tanto, embora continuem a crescer como não podia deixar de ser, por ja terem níveis de vida muito aceitáveis. É o caso da África do Sul entre nós. Não é para fazer festas que se fala em crescimento. O crescimento em Angola é sinónimo de aumento da produção de um único produto: o petróleo. Não é para ficarmos sorridentes que nos passam essas informações por peritos internacionais. Por exemplo em termos de índices de bem-estar social e humano Angola está muito próxima da Guiné Bissau que se encontra entre os 10 países mais pobres do mundo. Do ponto de vista da economia a Etiopia é mais próxima porque não regista actividade económica significativa controlada pelo sector privado. Portanto estamos entre os países de África mais atrasados social e economicamente. Estamos muito longe de alcançar as economias da África do Sul, da Nigéria e do Kénia que estão entre as melhores de África. Mas lá se diz que em 2012 Angola vai bater o record mundial das economias que mais crescem!
AS: Como cidadão como participa das transformações sociais em Angola?
AP: Reflectindo e debatendo as grandes questões do Estado. Tenho o vício de discutir política em quase todos os ambientes sociais de tal maneira que sou capaz de estar numa festa com amigos a discutir questões públicas. Mas o que me garante participação nas grandes questões públicas é a escrita. Escrevo e torno público as minhas reflexões políticas. É dessa forma que me vejo a contribuir para as grandes questões do Estado.
AS: E como Político?
AP: Bem se quer dizer agente de partido político descarto a resposta a essa questão, com o devido respeito!
AS: Recentemente a RDC assistiu a reeleição do seu Presidente. Estabelece algum paralelo com nosso país?
AP: Penso que a experiência da RDC é um aviso a ter em conta porque esse país vizinho na verdade está há anos de distância para o futuro em relação a nossa realidade. Veja que a era de Mobutu desapareceu 32 anos depois e JES está precisamente há 32 anos no poder. A alternância foi violenta porque os congoleses não quiseram negociar a saida do ditador e hoje vivem as consequencias dessa falta com as irregularidades eleitorais que nunca promove uma verdadeira transição política e com uma governação igual ou pior do que a do ditador deposto. Os congolese até avançaram com uma coligação de cariz nacional, uma frente patriótica, que foi e tem sido liderada por Etienne Tshissekedi Wa Mulumba sem grandes êxitos. Nós os angolanos devemos ter essa lição em conta para não repeti-la na nossa realidade. Porque o que está hoje a acontecer na RDC é seguramente o que nos vai acontecer nas próximas décadas se não formos sensatos nas decisões a tomar hoje. Por isso defendo um plano de salvação nacional que nos habilite a todos a promover uma transição política não violenta!
AS: Qual acha ser o nível de satisfação do povo angolano com o actual mandato do partido no poder?
AP: Zero. É o nível de satisfação. O povo saiu da desilusão para o desespero...está a ver como sair das garras opressoras do regime e promover a sua própria libertação pela mudança do poder político. E como as lideranças políticas não ajudam, o povo mantem-se no silêncio de aparente ignorância da sua própria situação social e económica!
AS: Acha que as manifestações reflectem os índices de insatisfação do povo?
AP: Insatifação não. Desespero...As manifestações são alguns dos sintomas. Mas também temos as greves passivas. Os angolanos demonstram pouca vontade e empenho para o trabalho corporativo e institucional porque percebem que os seus esforços e capacidades não são nem valorizados nem recompensados e que os seus dirigentes não salvaguardam os seus interesses sobretudo diante dos estrangeiros que operam em Angola. Há neste momento a falta de aderência em massa para o registo eleitoral apesar dos programas de mobilização nesse sentido. Isso faz pairar no ar uma espécie de plano nacional para o boicote às eleições. Enfim, se ficarmos atentos veremos muitos sinais de completa insatisfação. Por isso podemos dizer que Angola é um autêntico barril de pólvora. Falta apenas um líder que saiba interpretar essa insatisfação e transformá-la em força política para tudo acontecer contra o actual regime no poder!
AS: Acha que essa situação favorece os partidos políticos na oposição?
AP: Claro que não. O cego não percebe nada do que se lhe apresenta pela frente. Os partidos políticos vivem uma espécie de cegueira provocada pela falta de interesse em promover uma alternância pelo povo e para o povo. A maioria dos partidos políticos fez-se cúmplice do regime recebendo envelopes as escondidas e enganando o povo com discursos verborreicos e impraticáveis. Não existe suficiente moral política na oposição para se tirarem proveitos as oportunidades que se manifestam. Há corruptos tanto na situação quanto na oposição que passam a vida a promover o caos e a impotência nas respectivas formações partidárias. O povo pede por uma liderânça iluminada e eloquente!
AS: Não adivinha qualquer possibilidade de surgirem novas forças políticas que apresentem um desempenho mais aceitável?
AP: Como procurei fazer entender até agora, o ambiente que se vive actualmente não favorece o surgimento de novos partidos políticos porque o povo já não acredita em partidos políticos. É claro que este desespero pode produzir surpresas incríveis. E nisto adivinho o surgimento de uma força coligacional de feição nacional. Uma frente patriótica que abranja as melhores inteligências políticas da oposição e os partidos que entenderem sobreviver aos próximos desafios políticos. Há sinais que evidenciam essa possibilidade. O clima político mostra que os militantes e simpatizantes do MPLA e da maioria dos partidos políticos na oposição estão a mergulhar no desespero por estarem a ser vítimas das mesmas atrocidades provocadas pela governação. Porque as demolições de casas, os maus pagamentos nas empresas e toda a sorte de problemas e dificuldades sociais e conómicas não escolhem o tipo de militante ou simpatizante. Só falta unirem-se em torno de uma liderânça visionária que queira estancar este estado de coisas. Insisto neste ponto!
AS: Acha que o MPLA pode voltar a vencer as eleições?
AP: A resposta afirmativa não levanta qualquer dúvida. O MPLA está a fazer tudo nesse sentido nem que importe fraudes evidentes. E também não há força política de oposição suficiente para contrapor essa caminhada impetuosa do partido no poder. O que se está a questionar em círculos mais sérios é o tipo de vitória e as respectivas consequências políticas para todos nós e para o próprio MPLA!
AS: Diz-se que a falta de maturidade política do povo angolano contribui para essa situação. Concorda?
AP: De maneira nenhuma! O povo angolano é muito mais maduro do que os operadores políticos julgam. Há vários sinais dessa maturidade. O problema é que os políticos é que são imaturos porque não percebem que o povo quer preservar a estabilidade social ao mesmo tempo que pretende alternância na governação (atenção: o povo não argumenta a alternância política pela via partidária). O povo esta a gerir um dilema: Quer mudança na governação mas não pensa muito seriamente na mudança de partidos políticos por falta de liderânças credíveis. É o que se percebe nos comentários e na fraca participação nas iniciativas dos partidos políticos da oposição!
AS: Lendo os seus artigos na imprensa vê-se que não tem qualquer afinidade político-partidária porque não favorece claramente nenhum partido político. Num país em que quase todos os intelectuais têm um partido político em que depositam esperança essa atitude parece estranha. Porquê desta postura?
AP: Criticar partidos não significa não gostar ou não estar ligado a qualquer deles. Aliás, decorre da obrigação de militantes sérios analizar com imparcialidade e verdade o desempenho de um partido político para que este tenha um melhor desempenho e se promova no seu seio a cultura pela democracia e transparência. Tenho para mim que esses são os verdadeiros militantes. Tudo o resto oportunistas que procuram agradar os chefes a troco de oportunidades individuais em prejuízo do partido em que militam. A actividade política é um sacerdócio. É para cidadãos sérios e comprometidos com causas públicas. Quem quer ganhar a vida que aprenda um ofício ou faça um negócio qualquer que não seja política!
AS: Está ligado a um partido político ou não?
AP: Interessa-me muito ver os problemas da nação numa perspectiva mais uniformizante e imparcial do que defender posições partidárias. A nossa geração (a que nasceu nos anos 70 e 80) está condenada a promover um ambiente em que os problemas da nação ganham cada vez mais espaço no debate político sob pena de não conquistar a confiança do povo. Porque o povo já percebeu que tem sido vítima de manipulação pelos interesses partidários que nunca são claros. A minha base crítica do exercício político em Angola vem do facto de ter assumido sempre uma postura de oposição em todos os ambientes sociais em que divisei injustiça e má repartição de oportunidades. Desde pequeno que não admito que os meus protegidos sejam alvos de maltratos, mesmo nos momentos em que não tive forças ou meios suficientes para me impor contra...!
AS: Mas pode dizer pelo menos em que partido se revê?
AP: A fase do voto vai definir isso. Mas gostaria muito que a extinta FpD ressurgida como BD (Bloco Democrático) ganhasse uma desenvoltura táctica que viesse a dar êxitos eleitorais porque tem a tradição de promover o discurso aberto e democratico para além de não ter alergias às boas intenções dos seus simpatizantes. É bom ter em conta que em termos de simpatia político-partidária o futuro se prevê negro para a maioria dos angolanos sérios!
AS: Acha que os partidos politicos são factores de desunião do povo?
AP: De certa forma sim. Quando os políticos manipulam a vontade do povo contra os interesses destes é obvio que constituem um factor de desunião. É o que se passa com as igrejas quando incitam os seus fiéis a protegerem-se contra fieis de outras denominações religisas. Assim não se está perante defesa dos interesses das massas militantes mas das lideranças partidárias. Por isso é que vemos promessas veementes em comícios para depois tudo ser contrário quando os lideres da oposição partem em busca de parceirias pouco claras com o regime que se pretende mudado na governação. O povo já percebeu que é daqui que nasce a falta de coerência dos lideres da oposição e da fraca capacidade política destes em relação ao partido no poder.
AS: Quando fala em Angolanos sérios o que leva em conta?
AP: Levo em conta todos aqueles que perdram ilusões sobre a seriedade do exercício político em prol dos interesses nacionais e que por isso não aderem ao fanatismo ou a militância cega contra os angolanos ligados a outros partidos políticos. Enfim...falo dos angolanos que já não defendem partidos políticos, mas a nação. Em Angola já temos muitas figuras públicas ou não que nos orgulham nesse sentido!
AS: Acredita que o actual Presidente da República reune condições para mais um mandato?
AP: Está a fazer campanha ou quê (risos).Bem, penso que JES é um factor de estabilidade e instabilidade politica simultaneamente. A sua governação exagerada no tempo condiciounou os angolanos a este ponto. Hoje estamos todos reféns de uma realidade muito débil em que por uma lado estamos sobre a necessidade de mudança subjectiva da governação e por outro lado estamos perante a necessidade de preservar o quadro de estabilidade política, ainda que aparente. Estamos presos pela incerteza de uma governação futura que não favoreça o clima de estabilidade política actual. E tudo porque a oposição não dá quaisquer sinais de credibilidade nesse sentido para que todos tenhamos esperanças por uma mudança segura na governação do Estado. O povo está simultaneamente cansado e aliviado com o actual presidente da República, infelizmente!
AS: Pode explicar-se melhor?
AP: Se JES sai do poder que líder alternativo é capaz de garantir a segurânça dos milhares de estrangeiros e interesses que actuam nos vários segmentos de mercado em Angola? Quem garante que os milhares de membros do seu elenco governativo não serão julgados incluindo ele mesmo? Quem garante que os acordos com os chineses e com os americanos serão mantidos e cumpridos? Quem garante que os militantes do MPLA não serão perseguidos a semelhança do que aconteceu com os militantes da UNITA logo após as eleições de 1992? Quem garante que os generais, os comissários de polícia e muitos dos dirigentes políticos ligados ao partido no poder não serão expulsos e muitos deles julgados por práticas desonestas acontecidas no passado? Esse é o dilema em que se encontra mergulhado o povo e até a própria comunidade internacional. O certo é que devemos deslindar soluções seguras sobre essa situação. Mas o povo está sem dúvidas receoso com uma mudança forçada embora comece a apostar desesperadamente para a alternância política!
AS: Está a vaticinar momentos de disturbios políticoss com a saída do actual Presidente da República?
AP: Mas isso é por demais evidente. A menos que não queiramos olhar para realidade que se impõe. A governação de JES alimentou muitas diferenças sociais e económicas entre os angolanos de uma maneira geral. Criou a corrupção e muitas práticas ilicitas e desonestas que ajudam muita gente a sobreviver incluindo muitos daqueles que se dizem ligados a partidos da oposição. Há também muitos criminosos escondidos nas asas protectoras do regime. A mudança pode ser mesmo um desastre!
AS: Como pensa ser a melhor saída de JES do poder?
AP: Defendo que a transição política em Angola deve ser negociada com a coragem de todos os bons cidadãos afim de serem preservados os interesses mais nobres da Nação. O que passa por um acordo consensual, entre todas as forças vivas da nação, que proteja a integridade física e patrimonial de JES e de muitos dos seus actuais colaboradores. É a plataforma mais sensata para os angolanos se não quizermos entrar numa alternância forçada e sangrenta, se possível. Penso que JES tem medo do futuro para si e para os seus descendentes e a manutenação do poder é a via mais segura para evitar a concretização desse medo. É preciso que os partidos políticos e a sociedade civil promovam um debate sério a volta de um plano de estabilidade política pós-eleitoral que garanta segurânça ao actual presidente da República. É um dos caminhos para uma altrnância política estável e até para a transparência no processo eleitoral. Aliás essa é a solução para a maioria dos governantes de Africa que se arrastam no poder durante o tempo mais do que necessário. É claro que os políticos não estão interessados em interesses nacionais e muito menos em promover um debate do género. Por isso estou céptico quanto as soluções viáveis com base na actual realidade em que vivemos!
AS: Vê alguma figura política com capacidade e imagem pública capaz de substituir o presidente da republica sem que tais disturbios possam acontecer?
AP: De um modo geral qualquer angolano está abstractamente capaz de substituir JES. O problema a ponderar é a capacidade de garantir a estabilidade política mantendo o clima de boa convivencia entre as várias sensibilidades políticas e sociais. E como já referi, há também muitos interesses para preservar que se tocados ou alterados sem as devidas compensações poderão levar o país num verdadeiro caos. E nisto não estão apenas interesses de angolanos ou nacionais..!
AS: Qual é o papel da comunidade interrnacional para a estabilidade política em Angola?
AP: Podemos dividir a comunidade internacional e determinar os actores que encenam no mercado político. Nesta senda os EUA me parecem os que mais influenciam a política angolana. Veja que quando os americanos decidiram não mais apoiar a UNITA e o seu líder, a morte deste aconteceu quase que repentinamente quando vinha resistindo durante anos numa guerra que ja não se esperava fim. Tudo aconteceu porque o MPLA deixou a cooperação russa para curvar-se as exigencias americanas. Hoje acredito que JES só mantem o poder porque tem feito muito bem o seu trabalho de casa que até procura estender aos países vizinhos e não só. Tudo na perspectiva de manter boas relações com os americanos em prol da manutenção do poder. Quanto a ONU para mim não passa de uma grande capa com a qual os americanos se cobrem para espantar os interesses anti-americanos pelo mundo. A OUA é um pequeno aprendiz de feiticeiro que procura ter alguma autoridade dificil de conquistar junto de uma comunidade internacional da qual depende em tudo. Uma pretensão dificil de concretizar. A UE deseperada com o clima económico desfavorável que vive pendura-se aos interesses americanos para estancar os avanços da China pela África. Acredito que enquanto o regime preservar os interesses desses actores da cena mundial a paz que vivemos terá a sua garantia. São factores exógenos que condicionam o poder político não só em Angola como no resto de África!
AS: Participou das últimas eleições como candidato a deputado. Está frustrado por não estar na Assembleia Nacional?
AP: Nessa AN com a hegemonia do MPLA que diluiu o debate parlamentar eu não faria absolutamente nada para além de desiludir aqueles que me conhecem como “polêmico” (no bom sentido) em matéria argumentativa. Portanto longe da frustração. Penso até que tive sorte em não entrar nela. Para me preservar Deus não escreveu na minha sina que entraria nesse parlamento. Os que lá estão é que se sentem frustrados porque não existe debate que dignifique os deputados!
AS: Quer citar exemplos de deputados frustrados?
AP: Não é necessário apontar nomes. De uma maneira geral os deputados sejam do MPLA ou da oposição se encontram frustrados por não exercerem verdadeiramente o seu papel em prol dos interesses da Nação. Só não está frustrado quem acha que ser deputado é ter acesso as condições materiais e financeiras que essa condição confere, o que não seria seguramente o meu caso!
AS: Supondo que venha a candidatar-se a PR que prioridades traçaria?
AP: Bem ja não existem eleições presidenciais (risos). E também não me vejo vocacionado para administrar o Estado. Nunca fui a criança cujo sonho foi ser presidente da República. Nem o meu pai sonhou este posto para mim (risos). Mas é claro que estou habituado a pensar a gestão do Estado com a resposnabilidade que tenho de contribuir para a melhoria da nossa sociedade. Nessa base ja propus directrizes ao PR que estão publicados na imprensa e na internet...De qualquer modo, como mera hipótese de vir a ser Presidente eu priorizaria a iniciativaa privada e o fomento empresarial. É nesse ponto que o pais esta parado e a miiseria flui a pezar do famoso crescimento económico. E tudo começaria com a facilidade de acesso e registo imobiliario, do lançamento da bolsa de valores e liberalizaçao do mercado financeiro entre outras medidas. Nos últimos tempos não vejo problema maior do que esse. Isso significa libertar a sociedade de uma mamneira geral para o desenvolvimento pel ainiciativa privada. Isso resolveria mais de 70% doss males sociais como a pobreza, desemprego, etc. Mas também a saúde e a educação. O Estado voltaria para a realização de programas sociais e inversamente me esforçaria a fazer o Estado menos presente na economia privada, privatizando empresas públicas e criando condições para que todas as micro, pequenas, médias e grandes empresas cresçam de forma sustentável. É claro que essas linhas executivas não me fazem génio nenhum. É apenas o que o povo mais precisa e que os governantes não querem fazer...!
AS: Porque pensa que os governantes não querem?
AP: A pobreza e as dificuldades sociais e económicas são factores de manutenação do poder político, sabia? Enquanto não haver alternância política e a consequente capacitação institucional da justiça e das forças de ordem pública e de defesa nacional nunca se vai pensar de outra forma. Não importa o partido que assuma o poder. Ninguém vai ao poder com flexibilidade suficiente para o deixar. Os govrenantes tem bem presente essa cartilha...!
AS: E como garante que pode fazer diferente?
AP: Estamos a falar de um Albano Pedro presidentee da Republica apenas em termos hipotéticos não é? (risos). Mas sou de opinião que com o fim do mandato de JES os novos lideres já não vão apanhar o povo distraido. Não terão outra escolha senão executar políticas publicas viáveis...!
AS: Ainda na hipotese de ser Presidente da república que governantes manteria no poder ?
AP: De uma maneira geral todos os governantes acumularam experiências interessantes pelos infinitos anos que têm estado no poder porque JES habituou-nos a não “expulsar” ministros ou vice-ministros, governadores ou vice-governadores para rodá-los numa mera dança das cadeiras...É claro que o povo conhece aqueles que têm mostrado algum desempenho pela boa gestão pública. Logo, não seria díficil escolher os que fossem viaveis para a nova governação porque os melhores devem sempre governar. É a cultura da meritocracia que eu defenderia nesse caso e não de simpatias ou militâncias partidárias!
AS: E se o PR continuar o mesmo? Quais são so governantes que ele deve manter? E porquê?
AP: Se continuar? Não importa quais sejam os governantes...já sabemos que efectivamente JES não dá poderes a ninguém e por isso ninguém consegue ser autêntico na governação!
AS: Diga o que será do futuro político dos angolanos?
AP: Negro porque perigosamente imprevisível. Isto se não tivermos coragem de aproveitar o tempo presente e tomarmos as medidas mais sensatas para evitá-lo, já. Isso significa abandonarmos os nossos interesses e vantagens pessoais, as nossas simpatias partidárias e pensarmos somente a Nação estendendo o nosso altruismo patriótico aos concidadãos que se encontram em zonas inacessíveis e completamente abandonadas a sua sorte pela governação!
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