sábado, 28 de janeiro de 2012

ALBANO PEDRO ENTREVISTADO PELA REVISTA FIGURAS&NEGÓCIOS

ALBANO PEDRO

(Entrevista concedida a Revista Figuras & Negócios em Novembro de 2011)

FIGURAS&NEGÓCIOS (F&N) Acha que a desconfiança que se estabeleceu quanto à composição da Comissão Nacional Eleitoral Independente tem ou tinha razão de ser?Tanta contestação porquê?
ALBANO PEDRO (AP): Pelo que a oposição política interpreta por independência, e o resultado da hermenêutica constitucional não é diferente, é que a composição desse órgão seja não só heterogênea prevendo a integração de personalidades ligadas a sociedade civil e com alto nível de credibilidade ética e de integridade moral, escolhidos através de um processo completamente imparcial, como também seja verdadeiramente independente do Executivo, seja do ponto de vista humano, financeiro, técnico, logístico e material. Pretende-se, enfim que a participação do Executivo em todo o processo eleitoral seja meramente acessória e dependente da CNE como condição de um processo eleitoral transparente e sem margens para fraudes.
F&N: Acha que o partido no poder esteve por detrás da crise que se despoletou, quer no processo de aprovação da constituição da referida CNE, como na condução do registo e actualização do cartão do eleitor?
AP: O MPLA através do Executivo, tem desviado os poderes da CNE para o MAT (Minsitério da Administração do Território) em muitos aspectos que dizem estritamente respeito àquele órgão. Assiste-se a antecipação de um conjunto de actos que em boa verdade deveriam ser conduzidos pelo CNE , como um orgão imparcial.
F&N: Como personalidade activa na vida política do país considera que esta crise acaba por fortalecer o partido no poder ou não?
AP: É claro que ilusoriamente o MPLA sai a ganhar porque pode arrastar-se no poder sem eleições para além do tempo estabelecido constitucionalmente e no meio disso pode gabar-se publicamente de que o empecilho foi provocado pela oposição política por se esta que não admite o pacote eleitoral nos termos em que se apresenta. Mas isso é tudo para irritar o povo, já saturado, aprofundando mais ainda a fraca credibilidade de que goza.
F&N: Acredita que foi um erro estratégico de todas as forças vivas da sociedade não rebaterem, logo no início das discussões a nível do parlamento, a questão do registo e actualização dos eleitores? De todo modo, foi , e é, o Ministério da Administração do Território quem acabou por encabeçar este processo…
AP: O que se passa é que o MPLA através do Executivo sempre se mostrou bem lúcido quanto ao processo por si organizado e tudo se apresentou tão milimetricamente controlado desde o início que nunca houve margens de manobras para os partidos da oposição influenciarem o processo.
F&N: Acha que a oposição pode resolver a questão, inviabilizando, por si só, tudo o que foi feito até agora pelas instituições afectas ao Executivo na preparação das eleições de 2012?
AP: Se a solução tiver de surgir da oposição política então surgirá uma verdadeira crise com contornos alarmantes para a estabilidade política nacional. Porque as soluções da oposição civil seriam reactivas e com laivos de contestação generalizada e extensíveis ao povo alavancando todo o clima de insatisfação que ja assistimos com as manifestações espontâneas que temos vindo a assistir um pouco por todo o país. Pois que, a oposição está apenas a reivindicar a implementação dos mecanismos constitucionalmente consagrados.
F&N: Perspectivado a realização das eleições no tempo previsto, também sugere que possa existir fraude? Porquê?
AP: Com o controlo do processo pelo MAT prevê-se que o sistema informático venha a ser viciado para facilitar os resultados em favor de quem controla. Este é o maior mecanismo de fraude que se adivinha durante as eleições de 2012, se medidas sérias não forem adoptadas pela oposição política bem como pelo bom senso do MPLA.
F&N: O que é que perspectiva para as próximas eleições sem uma oposição forte?
AP: Prevejo um MPLA a passar da maioria absoluta para maioria “absurda”. Isto é, o MPLA poderá ganhar as eleições com uma maioria “pior” que a actual e com isso poderá inaugurar uma verdadeira era de declinio politico, porque as victórias esmagadoras em política destroem a cerdibilidade dos partidos politicos e desgastam a imagem e a importância histórica dos seus agentes. Daí que a ditadura parlamentar do MPLA tem sido um mau exemplo de democracia para os angolanos. Enquanto que os partidos politicos da oposição terão de desenhar novas estratégias se quizerem sobreviver no campo politico-partidário.
F&N: A se registar uma eventual fragilidade política na Unita, acredita que surja uma outra força partidária mais forte no panorama político nacional?
AP: O povo angolano está a perder confiança pelos partidos políticos e começa a dar sinais, com as manifestações generalizadas, de estar saturado e disposto a avançar a todo custo para uma verdadeira revolução política para a mudança das condições sociais e económicas altamente deprimentes para a maioria dos cidadaos que são manifestas com as demolições não compensadas de casas, preços exorbitantes de moradias sociais, falta de emprego, carência de água e energia electrica bem como de educação e saúde de qualidade, altos índices de corrupção, criminalidade perpetrada por altos dirigentes do Estado e a correspondente impunidade que gera desamparo total. O povo pede uma nova liderânça que os conduza para esse objectivo. Se esta surgir, então veremos um verdadeiro movimento social e político – senão um levantamento mesmo - que vai arrastar os partidos politicos para uma definição clara no xadrez politico nacional. O surgimento de uma coligação com feições patrióticas é o que se afigura mais evidente nos próximos momentos se os partidos políticos da oposição continuarem com evidentes sinais de estarem moribundos ou em coma profunda.

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