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terça-feira, 25 de outubro de 2016
PODEMOS FALAR EM BIPOLARIZAÇÃO POLÍTICA EM ANGOLA? – ALBANO PEDRO
Concordo que a bipolarização ainda é um fantasma político entre nós. Entretanto, sou daqueles que acha que esse fenómeno deve desaparecer para dar espaço, não propriamente a uma sociedade civil, mas ao espírito de cidadania. E os motivos são simples: essa bipolarização impõe militância aos angolanos e não cidadania. A falta de cidadania impõe presença hegemónica dos partidos políticos na consciência dos cidadãos. Essa situação retarda (adia invariavelmente) o processo de implementação do Estado de Direito e Democrático de facto. A força bipolarizante foi omnipresente na primeira legislatura que terminou em 2008. A força determinante na verdade foi o GURN. O que significava que o MPLA e a UNITA repartiam o espaço político-partidário e o espaço político-administrativo tendo as mesmas (ou quase) percepções sobre a dinâmica do Estado em todos os seus sentidos. Hoje, já não vejo a força da bipolarização tão presente no espaço político. E isso verificou-se com a redução da hegemonia da UNITA no parlamento e o fim do GURN.
E essa bipolarização sofreu um duro golpe sobretudo desde o surgimento da CASA-CE (embora se veja tendencialmente a sua composição como derivada das duas forças). Pois a CASA-CE tornou-se uma espécie de vala de drenagem pela qual corre ainda muitas das vontades que emprestaram forças aos dois gigantes. A FNLA, o PRS, BD, PDP-ANA e poucos outros esfarrapam de alguma forma a ideia da bipolarização. A bipolarização vai sendo ainda fragilizada pelo aumento crescente do descontentamento social e da frustração das populações que vão animando a abstenção política. Basta sentir a redução na adesão dos cidadãos nos processos eleitorais que vai ganhando expressão de eleições em eleições. Hoje já não se pode ignorar o "volume" de cidadãos que não assume claramente uma filiação partidária.
A fome e as desconfianças na lisura das eleições têm ajudado a formar esse quadro humano que escapa da cintura bipolar da vida política. Mas, não deixo de admitir que o seu fantasma ainda paira sobre nós. Aliás a sua força na verdade transferiu-se acentuadamente para a sociedade civil. Percebe-se hoje que a sociedade civil é que de alguma forma está a ser vítima da bipolarização partidária. Aquela que tem surgido com alguns grupos que se afirmam como independentes das duas forças políticas (MPLA-UNITA) não é suficientemente vigorosa para se afirmar como tal.
A disputa nesse espaço pantanoso é feita entre aquelas que contam com apoio de entidades internacionais e aquelas que animam actos isolados de cidadania (manifestações, reuniões, debates). Daí que sou de opinião que a sociedade civil isenta da influência de qualquer uma das forças e robusta ainda é um sonho entre nós. Mas acho que a afirmação de uma sociedade civil é indispensável para começarmos a falar de cidadania e pensar na construção de uma sociedade alinhada para o Estado e Nação. Esta é a parte em que me coloco a emprestar a minha contribuição cívica. Compreendo que o caminho é longo e que o esforço é de todos nós!
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