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    sábado, 28 de março de 2009

    DA ARTE DA GUERRA AO ESPÍRITO DE CIDADANIA

    A FALTA DE EMPREENDEDORISMO ENTRE OS ANGOLANOS EM TEMPO DE PAZ

    Albano Pedro*


    Falar de guerra e cidadania é para os espíritos superficiais um assunto perigoso em tempo de paz e sobretudo sem importância quando se pensa que democracia é sinónimo de poder exercido por um povo eufórico e feliz pela distância das armas. Entretanto, o mundo trás a experiência de que apenas os países que estiveram envolvidos em actividades militares forjando os cidadãos em rígida disciplina em defesa de interesses nacionais e símbolos éticos e morais colectivos têm, hoje, a virtude de se considerarem desenvolvidos ostentado riquezas ante ao esforço colectivo contínuo pela dinâmica social rumo ao bem-estar comum. Os exemplos abundam desde a China milenar dos grandes estrategas militares, aos “yankees” americanos eufóricos pela hegemonia mundial passando pelos russos bolchevistas, alemães hitlerianos entre poucos outros. Falamos da arte da guerra convencional e cientificamente organizada longe dos exercícios da guerrilha rebelde, não estruturada e espontânea atravessada por revoltas com fundo tribal que sucedem em quase toda África. Esta não se enquadra no espírito da guerra como meio de união e consciencialização do povo em torno do ideal de pátria e liberdade. É por isso, que as guerras em Africa não fazem soldados aguerridos que se transformam em cidadãos disciplinados e industriosos. Mas guerreiros fanáticos que, ao serem frustrados pelas manobras de políticos gananciosos, se transformam em cidadãos revoltados alimentando o ciclo de violência que derrubam governos e instauram ditaduras internando o continente em desgraças sociais profundas.

    Estaremos a dizer que fazendo a guerra o país se desenvolve? De maneira nenhuma! A actividade resultante da guerra efectiva é tão evitável quanto é inevitável a necessidade de preservação de vidas e bens. Os angolanos, melhor do que muitos povos, estão em condições de testemunharem o desgaste físico, psicológico, ético e moral que apenas a guerra pode desencadear. Não se perdem mais estruturas patrimoniais e infra-estruturas sociais, que sustentam a estabilidade e o desenvolvimento económico, do que em tempo de guerra.

    Estamos a defender que a disciplina resultante do exercício militar é tão importante quanto a necessidade de paz social e desenvolvimento económico. Se metade dos jovens angolanos que hoje se perde em actividades criminais forçados pelo desemprego ou falta de perspectiva de estudos ou sucesso académico e profissional pudesse frequentar escolas ou academias militares, por dever de serviço militar obrigatório, desenvolvendo a robustez física e o espírito de missão e sacrifício por altos valores éticos através de exercícios físicos intensos e ensinamento moral sólido, valores de pátria e cidadania, acompanhados pelos mais experientes soldados e os mais exemplares comandantes, em pouco os angolanos lamentariam o actual desempenho social dos jovens. Ironicamente, em tempo de paz que é necessário preparar o jovem com métodos de disciplinas que o permitam construir-se como cidadão honesto e empreendedor é que os serviços militares vão rejeitando o acesso a preparação militar dos futuros líderes e dirigentes. Se os governantes pensam em criar jovens empreendedores em carteiras escolares adicionando matérias afins nos curriculuns académicos, enganam-se redondamente! Não há empreendedor que não nasça da situação de extremo risco e sacrifício preservando o senso de colectivismo como acontece da prática de exercícios militares. De contrário os empreendedores são egoístas, ditadores no interesse próprio e por conseguinte nefastos para a própria sociedade. Quanto a esta verdade a realidade é por si só eloquente.

    O que a arte militar tem a ensinar aos cidadãos é o espírito de vitória perante os múltiplos obstáculos que a vida coloca. Por isso, um governo responsável pelos destinos dos seus cidadãos tem de treinar os mais aptos na arte de enfrentar o perigo de forma disciplinada e aguerrida, temperando o sentido de missão e a bravura perante o “impossível”. Assim, quando o Estado recruta e incorpora novos cidadãos nos serviços militares está a seleccionar os cidadãos mais robustos, hábeis e industriosos para a defesa de interesses colectivos. E está a determinar igualmente que apenas estes podem servir o Estado nas suas diversas actividades e obrigações, quando dispensados do serviço militar activo. Por isso, terão as qualidades físicas e morais exigidas aos mais exemplares cidadãos. Sobre este assunto de importância capital Vegécio, estratega militar romano, terá dito que “Os pescadores, os caçadores de aves, os pasteleiros ou cozinheiros, os tecelães e, em geral, todos aqueles que se parecem ter empregado em trabalhos femininos, devem ser afastados do acampamento militar. Os pedreiros, ferreiros, carpinteiros, carniceiros, caçadores de feras ou de caça grossa podem ser utilmente incorporados no exército.” (in: Tratado de Ciência Militar, Pág.34). É claro, que esta selecção especialmente baseada na robustez física e em geral nas qualidades físicas é útil para a composição de soldados – hoje integrados na categoria de praças e sargentos – destinados a relações de conflito corpo a corpo ou com armas de fogo desenvolvidas em combate. Não se exigirão a estes conhecimentos que ultrapassem as habilidades físicas tanto quanto se exigem aqueles que se tornam em comandante das tropas: os oficiais. É desta classe, nobre pela elevação intelectual e académica e firme pela robustez física e educação patriótica, que nascem os cidadãos cuja missão é produzir resultados em grupos de homens pela disciplina e ordem. São os chefes e líderes que lançados ao ambiente civil se tornam nos mais exemplares e empreendedores dirigentes políticos e de empresas pela refinada capacidade de enfrentar as situações críticas com serenidade, optimismo e espírito de nação. Os soldados não ficarão de fora das prioridades do Estado. Estes, tendo desenvolvido fidelidade canina na defesa da pátria, serão os mais interessados na preservação do erário público pelo qual juraram combater sacrificando a própria vida. Como funcionários públicos emprestam as suas mais elevadas habilidades em vencer os mais complexos obstáculos, agirão em grupo desenvolvendo o espírito de equipa que lhes caracteriza desde os exercícios militares, e não serão conhecido pela covardia de não denunciarem os actos nefastos ao bom desempenho do Estado visto que nenhum perigo que venham a viver seja maior que aquele o de perder a vida em nome da pátria experimentado com exercícios e operações militares.

    Nem todos os que desenvolvem a actividade militar serão homens bons e cidadãos úteis. Por isso Vegécio adverte que “A segurança do Estado depende da escolha dos recrutas, que devem ser excelentes tanto em qualidade física como moral” (pág.34) e avança questionando: “De que serve treinar um cobarde, com as despesas de vários anos de serviço no acampamento? Jamais um exército composto por recrutas escolhidos com descuido progrediu nas campanhas” (pág. 35). Cidadãos sem disciplina militar, quando não por credo religioso, são em geral ociosos, procurando a realização pessoal mais pela vaidade dos sonhos do que pela honestidade das acções, o que os torna vulneráveis a todo o tipo de desvios e vícios sociais, sendo que a falta de espírito de grupo e missão facilmente os arrasta a corrupção e ao prejuízo do interesse colectivo, desenvolvendo o hábito pela delapidação e dispêndio gratuito e abusivo do património público.

    Mercê da tão ansiada paz social alcançada com o fim da longa guerra civil, os dirigentes angolanos têm perdido a noção da importância e obrigatoriedade do serviço militar. O Estado angolano tem dispensado os mancebos ávidos pela descoberta de novos valores sociais entregando-os ao ócio e ocupações inúteis e prejudiciais ao desenvolvimento harmonioso dos cidadãos. Se os jovens das zonas urbanas encontram miríades de alternativas para desenvolverem-se de forma individual e desorientada dos planos gerais do Estado, os cidadãos de zonas rurais, mais experimentados em actividades rústicas e aptos para tarefas árduas têm menos oportunidade de desenvolverem a consciência de nação pela congregação com outros compatriotas de vários cantos do país no desempenho de actividades e funções militares provisórias ou definitivas. Sendo legitimado pela Lei Constitucional o serviço militar obrigatório é um dever e um direito dos cidadão; dever no sentido em que se traduz na necessidade de defesa da nação e direito no sentido em que se traduz na oportunidade de desenvolvimento físico, moral e ético dos cidadãos para uma melhor prestação social pelo empreendedorismo e espírito de missão pública.

    A guerra desenvolvida em Angola durante anos teve efeitos perversos por ter sido travada entre concidadãos. Provocou mágoa e frustrações e em consequência o seu fim foi incapaz de robustecer a consciência de nação e o espírito de missão no interesse colectivo. É preciso desenvolver actividade militar com base no espírito de missão nacional assente em estratégia de um militarismo convencional, moderno e patriótico para criar cidadãos unidos, empreendedores e consciente da necessidade de proteger os bens públicos.

    A estratégia desenvolvida em ciências militares é, hoje, um grande instrumento de acção e desenvolvimento cuja importância se estende nos campos da política e das empresas, tão imprescindível quanto a necessidade de desenvolvimento de um povo. Pois os inimigos estão por toda a parte da realidade social. São a pobreza, o desemprego, corrupção e dificuldades múltiplas contra os quais apenas cidadãos bem treinados podem combater e vencer. Daí que, falar da guerra como arte e ciência é necessário num país como Angola em que a apatia dos cidadãos demonstrada pela falta de ímpeto, dinamismo, criatividade e espírito de sacrifício é notória no rosto de jovens desempregados, adultos ociosos e velhos perdidos na esperança de sucesso em serviços suportados pelo Estado.
    * www.jukulomesso.blogspot.com

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