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    quarta-feira, 10 de junho de 2009

    O ENSINO DO DIREITO EM ANGOLA

    DO ENSINO FUNDAMENTAL AO ENSINO APLICADO: PROBLEMAS E SOLUÇÕES

    Albano Pedro*


    PROBLEMAS

    São cada vez mais visíveis os problemas levantados ao nível do ensino do Direito quer a partir da qualidade de docentes quer a partir dos conteúdos curriculares. Os resultados são por si só eloquentes: Professores com conhecimentos mecanizados (limitados aos magros fascículos que utilizam como base bibliográfica) e com níveis de exigências abusivas (reprovando discentes de forma aleatória), sendo que aqueles que satisfazem as exigências desses mesmos docentes, nem por isso podem decantar manifestos proveitos das lições “mecanizadas” na vida pós-acadêmica ou profissional. Não estranha por isso, que dentre milhares de juristas formados poucos são os que de modo competente e eloquente se impõem no mercado do trabalho. Razão pela qual juristas estrangeiros ganham cada vez mais espaços nos grandes interesses económicos e profissionais em Angola. É de salientar que a falta de definição da carreira de investigadores no sistema de docência universitária e fraco incentivo ao sistema de investigação científica em toda a universidade pública são outras das grandes causas da falta de “brilho” académico e profissional dos estudantes universitários em geral e dos juristas em especial para além de retirar o cariz participativo da universidade na solução dos principais problemas da sociedade pela apresentação de projectos e propostas concretas.

    Soma-se que a indefinição da tipologia de ensino nas universidades angolanas levam ao fraco aproveitamento profissional dos formandos. Por exemplo, o curso de Direito da Universidade Agostinho Neto (como única universidade pública) não se define como sendo nem fundamental (no sentido em que procura iniciar os juristas em estudos gerais e aprofundados do Direito) nem aplicado (no sentido em que tem utilidade imediata na vida profissional). Embora, no plano curricular, se apresente mais caracterizado ao ensino do primeiro tipo. De todo o modo, o resultado é que para a maioria dos juristas aí formados falta a capacidade de raciocínio jurídico, visto o exercício técnico-jurídico restringir-se tão só a interpretação de Leis, tornando-os não juristas mas técnicos de Leis. Quando o Direito como realidade cosmológica de dimensão material e formal plurifacética e abrangente compreende a própria Lei, o Costume, a Jurisprudência e a Doutrina como elementos fundamentais que participam da reflexão permanente do jurista. Isto explica, grosso modo, a incapacidade para o pensamento abstracto na análise do sistema jurídico angolano quando se pensa na sua reforma. Por exemplo, se a Metodologia aplicável ao Direito angolano deve ser de cariz romano – germânico (actual) ou de base costumeira angolana é uma questão de fundo que desaparece no horizonte racional da maioria dos técnicos de Direito implicados na reforma do sistema jurídico angolano por mera falta de educação técnica orientada neste sentido. Como podem os juristas não iniciados na técnica de investigação apresentar temas de dissertação ou textos com viabilidade técnica? Como se espera de um jurista que não exercita a oralidade nos temas jurídicos um desempenho aceitável como profissional do foro? Como ter uma redacção irrepreensível sem a prática na elaboração de temas de dissertação nas diferentes disciplinas curriculares? Pensa-se que é por preguiça ou mero acaso que a maioria esmagadora de juristas angolano não se tornou em escribas públicos participando na educação jurídica da sociedade através de escritos na imprensa? Para todos estes problemas vem a justificativa da classe docente de que a má preparação dos discentes ao nível do ensino básico e médio é responsável pelo insucesso profissional dos formandos, razão pela qual julga necessário uma solução tão aberrante como o ensino da Língua Portuguesa num curso superior de Direito.


    SOLUÇÕES COM O ENSINO FUNDAMENTAL

    Se por um lado, é feliz a iniciativa do Ministério da Educação em inserir na formação de nível médio o curso de Direito – não formará juristas certamente, mas formará técnicos médios de Direito que servirão para melhorar a qualidade de serviços de nível básico e médio dos diferentes serviços vocacionais como cartórios notariais, conservatórias, secretarias e serviços de diligências dos tribunais entre outros tantos serviços –, por outro lado, é necessário que o ensino fundamental do Direito surja na universidade pública para dividir as águas entre o ensino do Direito sustentado pelo Estado e o ensino do Direito da iniciativa privada por si só propensa a concorrência do mercado e como tal naturalmente orientado ao Direito aplicado. Se advogados, procuradores, juízes, escrivães, notários e consultores de grande imposição profissional no mercado podem sair das diferentes universidades privadas, do curso de Direito fundamental ministrado pela universidade pública surgem os docentes e investigadores mais destacados. Desta linha de juristas nascerão os verdadeiros reformadores do sistema jurídico angolano, aos quais, com a profundidade dos estudos poderão achar as soluções para as inúmeras tensões sociológicas e hermenêuticas que o Direito angolano transporta consigo. Aqui o Estado estaria a racionalizar o ensino Direito dirigindo-o a uma categoria de profissionais ao serviço de interesses públicos e naturalmente orientados à reforma jurídica tão necessária para um exercício técnico sustentado da Assembleia Nacional ou do Governo em matéria de análise e elaboração de leis e regulamentos.

    O projecto de introdução da disciplina de Língua Portuguesa nos cursos de Direito pode ser substituído com muito êxito pela introdução de disciplinas como Comunicação e Expressão (para treinar a escrita técnica e a oratória). Está disciplina será complementada por novos hábitos ao nível dos docentes: o de exigir dissertações sobre temas diversos durante a formação do estudante nas diferentes disciplinas do curso. A própria universidade deve premiar o trabalho de investigação e promover feiras de apresentação correspondentes, entre milhares de outras iniciativas relacionadas. Afinal a falta de exercício dos conhecimentos obtidos no ensino médio e durante o ensino superior é a verdadeira causa dos insucessos reclamados. Para um raciocínio jurídico apurado – recheado de abstracções e capacidade de coordenação lógica – disciplinas como Metodologia do Direito, Lógica do Direito, Filosofia do Direito (não uma tentativa da História da Filosofia do Direito que é actualmente ministrada da universidade pública), História do Direito Angolano (compreendendo as principais instituições do direito costumeiro no período pré-colonial) entre poucas outras, podem ser introduzidas para reforçar o plano curricular, se a meta for o ensino fundamental. Assim, uma nova especialidade em licenciatura pode ser inaugurada: Ciências Jurídico – Filosóficas, para orientar futuros especialistas, mestres e doutores em História, Filosofia, Antropologia ou Sociologia do Direito. Especialidades estas que marcarão o nascimento de grandes investigadores em ciências jurídicas, dando origem a uma verdadeira visão de reforma do Direito angolano com a imposição gradual de uma escola de direito angolana. Senão que tipo de juristas pensa o Estado angolano formar com os dinheiros de cada um de nós senão aqueles que venham a servir os nossos interesses como um todo reflectidos em todo o sistema jurídico?


    SOLUÇÕES COM O ENSINO APLICADO

    Longe da inútil e pouco saudável concorrência com a universidade pública as universidades privadas podem orientar as suas “baterias” para o sector empresarial e institucional concreto, divisando especialidades em matérias de consumo imediato para o mercado técnicoprofissional ou laboral. Juristas poderão ser utilmente lançados ao mercado para compreender e concretizar uma miríade de actos e contratos que transtornam o dia-a-dia das pequenas, médias e grandes corporações empresariais, governamentais e não-governamentais interpretando declarações negociais, cláusulas contratuais, bases negociais e causas e soluções dos conflitos contratuais e extra-contratuais conferindo autoridade técnica a consultores e auditores, advogados, magistrados, escrivães, notários, conservadores, etc., em vários domínios do conhecimento jurídico específico. É para aqui que se orienta a necessidade actual dos interessados no sector técnico-jurídico.

    Destarte, aos “juristas do Estado” – formados pela universidade pública – voltados ao “Olimpo” do conhecimento geral e profundo do Direito serão dados as maiores tarefas que implicam a análise e solução em abstracto dos vários ramos do Direito angolano quando relacionados com miríade de questões levantadas pela sociedade em todas as suas variantes culturais, económicas, sociais, políticas, etc., enquanto que os juristas formados no sistema privado podem utilmente desenvolver o faro técnico-legal especializando suas competências para a solução de casos concretos que implicam as necessidades de particulares de uma forma geral.

    * www.jukulomesso.blogspot.com

    6 comentários:

    1. oi eu sou o Teodoro dos Santos e sempre quis curssar direito acabei o medio o ano passado , agora para mim sera a fase do texte na fau d direito , por isso cria um concelho d como me posso preparar para tal .

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    2. Bem, caro Teodoro dos Santos, existem muitos curosos de preparação para os candidatos. Há escolas do ensino médio a fazerem isso, há faculdades de direito na mesma senda. A minha esposa (insigne advogada ministra cursos dessa natureza) se estás em Luanda passo o seu contacto no facebook. porcure Amor de Fátima e deixe mensagem no chat, Tenho certeza que serás devidamente encaminhado. ela é Professora de Direito Constitucional e já ajudou centenas de candidatos a prepararem-se convenientemente para os testes. e poucos falharam. Boa sorte, meu estimado leitor!

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    3. é preciso dizer que o artigo foi bem pensado, mas precisamos perceber que o pais ainda é um embrião relativamente à esta matéria (ensino do direito), portanto, precisamos ter alguma espectativa positiva quanto o melhoramento desta questão. O estudo do direito requer um esforço individual e os discentes precisam ser instruídos neste sentido, penso que é uma mais valia melhorar o ensino do direito em angola, pois só assim teremos juristas autóctones, capazes de expressar no direito a nossa realidade, porque o que falta não é só um raciocínio filosófico, falta também um conhecimento apurado da nossa realidade jus cultural. Orlando Buta

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    4. Bem dito tudo que vem em nome do senhor jesus

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    5. Bom dia Dr. Albano Pedro;
      Olha conhecí o seu blog orientado por um amigo que eventualmente lida com o doutor; dizer que é a primeira vez que leio e gostei imenso passo a explicar-me:
      1. Eu sou daqueles "Potenciais Juristas" frustrados porque fui para Cuba muito cedo aos onze (11) anos, fiz um bom percurso até terminar o ensino médio entretanto por culpa das boas notas ao concluir o médio, por orientação e estrategia do INABE na altura fui forçado cursar licenciatura em Educação na especialidade de Matemática mais na verdade eu queria mesmo era estudar Direito.
      2. Concluida a Licenciatura e por força das circunstancias na altura, comecei a trabalhar na industria de telecomunicações na área de gestão de projectos.
      Portanto passados os anos acho que ja tenho condição para concretizar meu sonho de juventude até porque minha pretensão é mesmo enveredar na área de Investigação, quero estudar Direito não para advogar mais para DOCÊNCIA até porque ja tenho suficiente formação pedagógica portanto faltaria a tecnico juridica para completar.
      Minhas perguntas:
      a) O Dr. Albano acha que nesta altura do campeonato (43 anos) é possível começar uma carreira apartir da licenciatura e eventualmente converter-me num professor de Direito?
      b) O que devo fazer?
      Portanto sei que eventualmente pode ser um desafio muito alto e pretencioso entretanto tenho força de vontade para o efeito.
      Fico a espera de seus comentarios e serei muito grato e dizer-lhe tambem que de veras o senhor tem um poder de redação hiper excelente.
      Obrigado
      Eusebio Santos

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      Respostas
      1. CAro Eusébio dos Santos, peço desculpas pelo atraso na resposta. O inconveniente da territorialidade do Direito é que aprendemos os sistemas de normas de acordo com o país em que estudamos e quando nos deslocamos para um outro torna-se de facto um problema. Penso que nada impede que seja Docente, aliás, se insistiu nessa altura já deve ser, porque não existem entraves consideráveis para o exercício dessa profissão para quem se forma no estrangeiro. Entretanto, o conhecimento da nossa realidade jurídica ganha-se praticando. E penso que já está nessa senda. Abraço!

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