Uma questão levantada pela jurista e jornalista Amor de Fátima na rede social do Facebook me fez reflectir seriamente sobre o futuro de um grande partido que é a FNLA. Trata-se da seguinte questão: “ Se a FNLA que formalizou hoje (Domingo), junto do Tribunal Constitucional (TC) a sua intenção em participar nas eleições gerais de Agosto, for extinta por não conseguir votos suficientes…como ficaria a grande luta de Ngola Kabango?...” A questão é pertinente porque sabe-se que a FNLA que deu entrada do processo de candidatura ao TC é aquela cuja direcção é encabeçada pelo Sociólogo Lucas Ngonda em detrimento da vontade maioritária dos militantes deste histórico partido político angolano que pretende ver o Eng.º Ngola Kabango como legitimo sucessor do Presidente fundador, Álvaro Holden Roberto. A questão de fundo é: se o Eng.º Ngola Kabango que detém o apoio da base social da FNLA não pode candidatar a FNLA às eleições de 31 Agosto, por falta de legitimidade legal, que será da FNLA?
Porque por um lado temos Lucas Ngonda com legitimidade legal (com capacidade de candidatar o partido as eleições) e por outro Ngola Kabango com legitimidade popular (com capacidade de mobilizar a massa de militantes e simpatizantes para repor o partido na Assembleia Nacional evitando a sua extinção). Ou seja, com a situação instalada desenha-se no horizonte deste partido uma crise que pode resultar na sua morte parlamentar e legal, já que os militantes podem “boicotar” a candidatura de Lucas Ngonda preferindo uma espécie de automutilação que leve consigo o partido ao seu próprio enterro. Afinal, os mais tradicionais militantes podem não votar a favor do “partido de Lucas Ngonda” e mobilizar os restantes para uma abstenção generalizada com objectivo de isolar Lucas Ngonda. O que significa isolar a própria FNLA legalmente reconhecida para a corrida eleitoral.
Para uma análise clara do problema, podemos admitir a existência de duas FNLA (o conceito de ala não se apresenta oportuno). Uma que é legalmente reconhecida para concorrer as eleições que é encabeçada pelo Lucas Ngonda e outra que é marginal, e como tal impedida de fazer uso de expedientes que o levem a candidatar-se as eleições e que ironicamente detém a base social de apoio da FNLA encabeçada pelo Ngola Kabango. Se é verdade que esta situação aproxima a FNLA de uma verdadeira crise existencial que culminará com a sua própria extinção legal, também é verdade que chegou o momento para a determinação da salvação deste grande movimento histórico transformado em partido político. Então de que lado estará a solução?
Na verdade, a obsessão de Lucas Ngonda e seus sequazes em suceder a Holden Roberto, com argumentos de político visionário e salvador do partido, tem levado a FNLA numa verdadeira crise de identidade. Afinal, os militantes que determinam a legitimidade política perderam terreno na luta pela unificação do partido a favor de manipulações externas que fragilizam todos os dias as pretensões estadistas deste partido e o levam a uma extinção legal na arena da política doméstica. Quem pode salvar o partido?
Tudo indica que a situação instalada pode provocar um verdadeiro “êxodo” de militantes e simpatizantes para a abstenção ou ao desvio eleitoral que favorece outras formações partidárias. Desde logo, cabe aos próprios militantes decidirem a sorte da FNLA e isso significa a tomada de uma posição corajosa por parte da liderança com legitimidade política. Nessas circunstâncias, Ngola Kabango é chamado a salvar o partido sacrificando os mais profundos interesses pessoais e dos seus fiéis seguidores no contexto do legado histórico e simbólico que transportam consigo desde a fundação deste que foi um dos mais importantes movimentos de libertação nacional. Na verdade é chegado o momento da própria unificação do partido mediante tomada de uma decisão heróica que consiste na aceitação e apoio da direcção de Lucas Ngonda. Ngola Kabango é desafiado tal como foi a mãe do bíblico julgamento de Salomão que ofereceu a sua posição a favor da outra para salvar a criança de ser esquartejada como resultado da decisão sabiamente proferida. Ngola Kabango está desafiado a demonstrar quem verdadeiramente se apresenta como líder da FNLA, no sentido em que está verdadeiramente interessado na unidade e progresso do partido, sacrificando o seu cargo com vista ao sucesso eleitoral da sua formação política. Uma posição contrária, vai trazer a faceta de uma casmurrice absurda e marcadamente egoísta, levando-o a um inevitável suicídio político.
Se Ngola Kabango realiza o feito histórico da cedência da liderança pela salvação do partido, tal como a mãe do julgamento bíblico, merecerá o reconhecimento de verdadeiro líder da FNLA pelos militantes e simpatizantes. Assim como a mãe mereceu o reconhecimento de verdadeira progenitora revelando a malvadez e frieza da falsa mãe. De resto, é uma questão de aguardar pelo próximo congresso em que Lucas Ngonda se achara desgastado pela evidência do seu egoísmo político. Ngola Kabango, saído então de umas verdadeiras “férias” políticas poderá reconfirmar o comando da direcção de um partido completamente unido e desfeito dos seus manipuladores. Enquanto isso, a FNLA empolada pela divisão avança a passos galopantes para o precipício do esquecimento político pela triste via da extinção. Dixit.
terça-feira, 26 de junho de 2012
Partidos Políticos
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