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    terça-feira, 19 de outubro de 2010

    CARTA AOS PARTIDOS POLÍTICOS I

    Albano Pedro

    Com as recentes eleições tendentes ao cargo de Presidente ocorridas na UNITA, o país parou por alguns momentos a espera dos resultados finais. Não só por se tratar de um acto que ocorreu dentro do maior partido da oposição e da consequente lição de democracia daí decorrente, como dos seus efeitos em todas as esferas sociais e círculos de interesses políticos. Com efeito, os dois candidatos (Abel Chivukuvuku e Isaías Samakuva) dividiram, em visíveis tendências, o partido e o país. Duas perspectivas: a que se propunha a retirar a UNITA da letargia política e imprimi-la o sentido dinâmico que lhe permita encarar as próximas eleições gerais com merecida folga e provável hegemonia sobre os demais partidos, incluindo o da situação, e a que pretendia manter o status quo acomodando vontades e interesses pessoais. Para a primeira, ameaçando seriamente os interesses palacianos surgiu em cruzamento óbvio com os interesses do eleitorado nacional que ameaça grave abstenção nas próximas eleições. Aos partidos da oposição, agora vivificados pela plataforma dos POC e pelos actos sorrateiros do PADEPA, vem como uma catapulta para o afastamento do MPLA do poder propiciando coligações estratégicas para o efeito. Mais interesse ainda tinha para o próprio MPLA que augura por uma democracia interna pela pressão externa de um partido forte e competente na oposição, procurando livrar-se da “democracia de voto por mão levantada” afim de efectuar as devidas limpezas que interessam entre os camaradas.

    Para a outra, restava apenas a correspondência com os interesses palacianos, vindo daí uma forte expectativa nacional cruzando em rotas de choques uma maioria esmagadora de angolanos contra uma minoria circunscrita ao poder. Os resultados favoreceram os interesses palacianos e por arrasto as correntes internas da UNITA e do própria MPLA que daí colhem algumas migalhas para a sobrevivência individual. Acto legitimado por uma minoria representante de uma maioria completamente inocente das perspectivas dos resultados alcançados.

    A UNITA entra mais uma vez em hibernação e com ela o sentido efectivo de oposição política nacional. Para a maioria dos angolanos, mais um sonho adiado e a reafirmação de uma perigosa incerteza quanto ao day after das eleições gerais. Ficam de fora grandes interesses actuais como o obstáculo injustificado levantado contra os angolanos na diáspora de exercerem o direito ao voto pela confirmação do registo eleitoral, a conclusão da implementação dos acordos de LUSAKA para a inserção social dos cidadãos desmobilizados das partes em conflito armado, a execução duvidosa do contrato bilionário com os chineses, o galopante desvio obscuro do património financeiro público para esfera privada, etc.

    A esperança almejada, com a renovação de uma presidência “relaxada”, perde-se com este acto protagonizado pelos “senhores do absurdo” e é carimbado o passaporte da certeza de uma UNITA em corrida para a derrota eleitoral. O cenário está agora mais claro para a ala “pró-futungo” do MPLA. O perigo de um MPLA em reforma pressionado por uma UNITA activa está agora fora de cogitação. A UNITA mantém a linha de um fiel apêndice da ala pró-futungo jogando o seu papel de um partido na sombra da oposição, como convém a este tipo de contrato.

    O MPLA pró-futungo esfrega agora as mãos de contente, visualizando apenas a ocasião de desfazer-se de uma UNITA servil no devido momento. Com um processo eleitoral já devidamente “cozido” a partir do registo eleitoral, a UNITA tem pela frente uma “expulsão” em massa do poder. Com o GURN extinto e um resultado em legislativas certamente minguante, só muito dificilmente a presença de mais de uma dezena de deputados será possível. E se os outros partidos da e na oposição não fazerem o uso útil das oportunidades desperdiçadas pela UNITA, chamando a si as respectivas vantagens, correm o mesmo risco.

    Assim, teremos um MPLA que, na perspectiva presidencial fica apenas derrotado pela contagem regressiva da permanência no poder que o processo eleitoral traz consigo, pode bem fazer as suas matemáticas no poder fazendo ressurgir o ambiente de partido único dos anos oitenta apesar de uma constituição democrática e com ele a soma de uns longos e felizes anos na situação. Salvo, se outra for a postura da nova direcção saída do X Congresso do partido fundado por Jonas Savimbi.

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