Albano Pedro
Até altura em que o MPLA começou a promover uma verdadeira campanha de sensibilização para uma marcha contra a manifestação de 7 de Março, eu reservava-me num mar de cepticismo sobre a possibilidade de tal ocorrência. Lembro-me de ter conversado com José Gama através do chat do Facebook e ter apresentado as razões do meu cepticismo. Entretanto a reacção algo imprevista e musculada do partido no poder me fez ganhar cada vez mais consciência da possibilidade da tão falada manifestação. É verdade que, sobre a possibilidade de não acontecer alguns aventam o facto de os líderes não terem rosto outros ainda pretendem que o medo trazido do 27 de Maio de 1977 e das escaramuças pós-eleitorais de 1992 é suficientemente forte para inibir qualquer aventureiro para tamanha empreitada. Mas, há um facto novo: alguns líderes da oposição civil e da sociedade civil apresentaram-se através de uma carta aberta ao Presidente da República a confirmarem a participação na manifestação e manifestarem os interesses sociais que motivam uma manifestação do género. Ou seja, a manifestação já ganhou rosto e como tal a possibilidade da sua realização é muito mais evidente do que antes.
Mas, o que nos preocupa é facto do MPLA ver numa manifestação, uma avalanche de desgraças políticas iguais aquelas que arrastam o mundo árabe ao caos e a violência. Afinal, é apenas uma manifestação, por sinal igual a mesma que o próprio MPLA pretende realizar antes como forma de protesto. A lei permite que os cidadãos, despidos de atitudes e meios violentos, possam demonstrar as suas inquietações e até indignações contra os governantes e outros agentes ou factos sociais politicamente relevantes. É completamente pacífico que cada cidadão tenha oportunidade, uma sequer, de abordar o mais alto magistrado da nação e demonstrar o seu descontentamento sobre as consequências negativas ou devastadoras da governação no seu lar e família, por exemplo. Fazer de um acto legalmente sancionado e politicamente correcto, desgraça nacional resulta de uma clara atitude de má fé de quem assim pretende visualizar. Com efeito, a diabolização que começa incidir sobre os supostos manifestantes, atribuindo-lhes intenções malévolas e até terroristas é prova previsível de que se pretende tirar proveitos políticos contra quem pretende apenas concretizar um exercício consagrado na Lei Constitucional.
A atitude mais correcta é a dos órgãos do Estado vocacionados à ordem pública disporem de um aparato humano e material suficiente para garantir que a manifestação marcada para 7 de Março ocorre sem incidentes ou prejuízos humanos e materiais. A polícia devia estar alertada e preparada para manter a ordem em meio a moldura de manifestantes que eventualmente venha a tomar parte do tão propalado evento. Os governantes, por sua vez, se bem-intencionados em relação a governação em prol das necessidades colectivas, deviam esperar ansiosamente pela manifestação como forma de medirem o grau de satisfação ou insatisfação do povo em relação aos programas executivos até agora implementado. Se o MPLA diz, e assume o slogan, que Angola está no bom caminho, a manifestação do dia 7 de Março se apresenta como uma soberana oportunidade para perceberem e concretizarem se os caminhos do povo e do MPLA são coincidentes de forma a redesenhar a rota rumo aos interesses do povo, já que o MPAL sempre se identificou com o povo.
Todavia, a contra-manifestação que o MPLA prepara para sábado é, no nosso ponto de vista, uma propaganda a manifestação do dia 7 de Março que passaria quase despercebido ao povo, se o partido no poder não alertasse os Angolanos sobre tal ocorrência. E acusar as potências ocidentais de instigarem movimentos pacíficos e constitucionalmente aceites, oferece provas bastantes ao mundo de que o MPLA não tem nem interesse pela democracia nem interesse pelas leis. O que obviamente não pode ser bem visto por países habituados aos corredores da legalidade e da democracia. Portanto, é o próprio MPLA que vem promovendo a manifestação do dia 7 de Março transformando-o de um acto simples a uma catástrofe política de dimensão nacional e danos irreversíveis para o povo angolano. É uma espécie de terrorismo político que se infunde no seio de um povo inocente das manobras partidárias e alheio a guerras e outros males danosos. E que pretende levar o povo a ver os fantasmas do passado bélico em pessoas de boa fé e reputação social, taxando-os de malfeitores políticos. É esta atitude, reflectindo completa intolerância política, que pode despoletar a violência contra os manifestantes.
Por isso, diante de um acto de exercício democrático e legal como é uma manifestação pública, os manifestantes se vêem ameaçados por uma máquina propagandística de efeitos terroristas que procura inibir a vontade de grande parte do povo que se encontra mergulhado em miséria extrema e politicamente intolerável. Pena, é que os grandes partidos políticos da oposição não se solidarizem abertamente a tal manifestação, demonstrando a sua habitual covardia em assumir as grandes agendas e eventos sociais reformadores do status quo político. Entretanto, o sinal de manifestação deve levar o Executivo a assumir uma atitude integradora em relação ao plano de desenvolvimento nacional, corrigindo as assimetrias económicas e sociais bem como elevando o nível e qualidade de vida das populações. Seja o que venha a acontecer depois da manifestação, caso se realize, que a mesma sirva para que os governantes assumam uma agenda de desenvolvimento nacional em que todos os angolanos se revejam.
Que sirva sobretudo, como uma soberana oportunidade para que o MPLA e os partidos políticos da oposição reflictam sobre uma agenda nacional de consenso inclusiva e sem protagonistas independentes, na forma de um PACTO DE REGIME que viabilize o desenvolvimento económico nacional, mesmo que isso implique a manutenção do actual regime no poder. Seria tudo quanto o povo precisa. Porque este tem sido na verdade a principal vítima das manobras políticas quer da oposição que pretende inculcar a ideia da necessidade de queda do regime, quer do MPLA que quer inculcar a ideia de uma governação eterna. Porém, a verdade do povo, que os partidos políticos não procuram descobrir é que ninguém quer quedas de regimes ou governos eternos. Apenas uma governação em prol do desenvolvimento económico e social de todos. Que aconteça a manifestação sem violência!
sexta-feira, 4 de março de 2011
Política
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