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    domingo, 16 de outubro de 2016

    AFINAL, QUEM ESTÁ A CONSPIRAR CONTRA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA? - ALBANO PEDRO

    Quando me apercebi que o suposto Governo de Salvação Nacional de que a PGR tomou como referência para justificar um possível golpe de Estado terá saído de uma conversa nas redes sociais que eu próprio iniciei numa iniciativa meramente intelectual envolvendo várias figuras de bom senso e grande influência nos médias e na vida pública angolana, coloquei-me logo a seguinte questão: “Afinal, quem anda a conspirar contra o Presidente da República?”. Como pode acontecer que no caso Kalupeteka, um conjunto de cidadãos sem armas e no puro exercício da liberdade de crença e de religião fosse confundido com um movimento rebelde? Quem fabricou esta informação e a levou junto do PR? E o resultado desta “conspiração” foram os excessos que provocaram mortes de cidadãos e de agentes da Polícia Nacional que envolvem sentimentos de perdas de famílias inteiras e que hoje começam a ganhar espaço nos debates internacionais como possível GENOCÍDIO que pinta muito mal a reputação do Estado angolano. Quem teve a “engenhosidade” de transformar um simples exercício de cidadania em caso de Segurança do Estado que levou a decisões extremas contra centenas de milhares de inocentes alojados no Monte Sumi? E com que interesse? Sem comentarmos o caso Rafael Marques, por economia de escrita, agora vem o caso da detenção dos Jovens Revolucionários “Revús” com tudo para se considerado um exercício da “pré-cabunga” em matéria de investigação criminal e de que se prestaram as autoridades públicas angolanas ao ponto de conotarem iniciativas de cidadania com um perigoso GOLPE DE ESTADO. Quem, sendo expert em matéria de segurança consideraria um debate público feito nas redes sociais por cidadãos habituados a questionar a ordem política angolana no intuito de a melhorar com uma conspiração contra o Estado angolano? Em que parte do mundo um Golpe de Estado se discute publicamente e só passado um mês é que as autoridades tomam conhecimento dele? Onde andam estas autoridades para não prevenirem os chamados “actos preparatórios” do famigerado Golpe de Estado que afinal iniciaram no facebook envolvendo vários e honestos cidadãos? O que afinal se considera flagrante delito nos actos preparatórios do golpe de Estado é uma mera reunião pública em que jovens, sem contacto com exércitos ou pleno conhecimento da própria mecânica do Estado, procuravam estudar possibilidades de reverter a ordem política, melhorando-a, por vias pacíficas? O dito manual achado como prova do crime não expõe métodos PACÍFICOS de destituição de um ditador? Abster-se de votar ou de não participar na vida pública não é uma forma pacífica de fazê-lo? E depois se o PR não é ditador, como se percebe nos discursos oficiais e políticos dos governantes e militantes do poder instituído, porque estar preocupado com métodos para derrubar um ditador, que afinal não é o PR? Quando tomei conhecimento da detenção dos meus companheiros dos grandes debates sobre transformações políticas e sociais, a prudência recomendou-me que percebesse a situação antes de intervir. Mal percebi parte da “novela” ficou claro que os “revús” foram promovidos a meros “bodes expiatórios” para uma causa obscura qualquer. Faz algum sentido para pessoas entendidas em matéria de segurança, e até jurídica, que uma reunião de jovens “armados” de lapiseiras e blocos de apontamentos seja considerada uma séria ameaça a Segurança do Estado? Quem foi o tal “Dongala” (identificado como o monitorizador dessas informações tomada para denúncia junto das autoridades públicas) que entendeu transformar um simples exercício de cidadania, até habitual entre os jovens detidos, em assunto de Segurança do Estado para pôr em pânico o PR e seus mais directos colaboradores? No interesse de que e de quem esse tipo de informação é levada as mais altas esferas do poder político instituído? Vejam que graças a esse exercício espalhafatoso, os jovens Domingos da Cruz, Luaty Beirão, Mbanza Hamza, Nito Alves e outros passaram a ser os primeiros presos políticos desde que Angola se tornou independente atraindo a atenção da comunidade internacional para a causa que defendem ao ponto de estarem próximos de beneficiar de ofertas de exílio político por Estados interessados em tratar do assunto com seriedade. Até diz-se, pela comunicação social internacional, que Nito Alves é o mais novo preso político conhecido no mundo! Quem anda a fazer brincadeiras tão sérias no seio do circuito dos informantes da autoridades públicas que envolvem o bom nome do Estado angolano? E como fica a imagem do próprio PR com esse tipo de situação? No meio disto ainda aparecem “pseudo-juristas” ou (des) entendidos em matéria de ordem pública que entendem que alguma lei foi violada mesmo sem saber quais foram os actos praticados contra a mesma. Que situação ridícula! Estou entre cidadãos que se acostumou com um PR que não se abalava por nada que viesse da sociedade civil ou da oposição, fosse contestação, fosse até mesmo insulto. Isso aconteceu nos momentos mais críticos da nossa democracia em que nem paz se podia respirar como o fazemos hoje. Quantas vezes não se ofendeu a imagem do PR sem que isso representasse qualquer crime no entendimento dos governantes? Quantas pessoas ligadas a oposição política não ventilaram publicamente a necessidade de se afastar o actual PR do poder sem que isso representasse tentativa de golpe de Estado? Nesse capítulo, José Eduardo dos Santos já teve a postura de um cidadão verdadeiramente polido e elegante como certa vez reconheceu Cavaco Silva, ainda Primeiro-Ministro de Portugal, ao compará-lo ao Jonas Savimbi no plano estadístico. Hoje, essa tranquilidade com que o PR nos acostumou parece ter desaparecido, dando lugar a uma perturbação tal nas hostes do poder que qualquer assunto, até dos mais banais, é levado em consideração para efeitos de Segurança do Estado. E com o andar da carruagem, como diria William Tonet “Qualquer dia ainda nos prendem por pensar “. O que começa a resvalar numa situação marcadamente ridícula para um Estado cujo exército é dos mais temidos de África como reconheceu João Paulo Ganga na TVZimbo quando comentava o assunto sobre as detenções dos jovens “revús”. Começa a ficar claro que alguém anda a conspirar contra o PR e esse, não parece estar nem entre os seguidores de Kalupeteka e nem entre os jovens revolucionários “revús”. Possivelmente estará no próprio circuito de informação montado pelos órgãos e serviços do Estado ao serviço do PR. A ser identificado, será certamente alguém (representando um grupo de interesse ou não) que pretende desviar as atenções de quem detém o poder político enquanto executa o verdadeiro plano de golpe de Estado. Pelo menos, um pouco de atenção na forma como se constroem as “conspirações” nos conduz a um circuito perfeitamente montado no centro do poder instituído por meio do qual se desenvolvem os “ACTOS PREPARATÓRIOS DE UM VERDADEIRO GOLPE DE ESTADO”. E tudo leva a crer que é deste circuito que saem as “engenharias” para criar “bodes expiatórios” entre pessoas estranhas ao poder instituído e por isso, é urgente que seja descoberto o seu pivô, e desmantelada a respectiva rede de informantes, para que a sociedade não continue a pagar com a ideia de falsas conspirações, quando o que mais se precisa é de solidariedade social numa altura em que a pobreza extrema e a falta de liquidez na economia recomendam uma postura mais paternalista do Presidente da República assente no DIÁLOGO com a sociedade para que sejam achadas as saídas necessárias desta crise. Dixit.

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