O Almirante André Mendes de Carvalho “Miau” foi o grande convidado do Programa Memórias da Independência de Guilherme Galiano. Para um país conhecido em ter muitos generais, é de realçar que entre os membros desta elite de topo das forças armadas existe um grupo muito reduzido destinado ao comando das forças navais: São os Almirantes. Curiosamente, são uma espécie tão rara, que possivelmente não haverá tantos almirantes (três estrelas) vivos e em número suficiente que cubram os dedos todos de uma só mão. O Almirante Miau é um desses raros exemplares. Não é por acaso que faz questão de ser tratado como tal marcando a diferença com os vulgares generais do exército. Ao tempo do serviço prestado a Marinha de Guerra (MGA), já ouvia falar dele como um elemento simbólico dos primeiros altos comandantes no comando das forças navais. Pela via do programa fiquei a saber que foi um dos homens que participou na reorganização da Marinha pós-independência. Ainda por cima foi colega de Bornito de Sousa. Quem diria?! Futebolista, músico, militar, político…Quantas valências marcaram a sua vida cheia de turbulências e peripécias desde a infância!
Mas ao longo da entrevista ficou a irreverência como marca do seu valoroso e estimulador percurso como homem, político e militar. Fala o que pensa e não interessa quem ouve. Que ouçam apenas. Que o digam os comandantes militares da tropa colonial. Que o digam os altos responsáveis do MPLA ao tempo do movimento de libertação. Mais ainda ficou claro que não alcançou a patente que ostenta por ser o filho do falecido escritor e nacionalista Mendes de Carvalho. De sargento a fourier miliciano da tropa colonial e de alto militar a político de referência na oposição política. Palmilhou com suor e competência cada degrau do sucesso alcançado. Foi o homem que deu acção ao levantamento militar em Cabinda, antes da proclamação da independência de 1975, e foi um dos homens que estruturou o sistema defesa militar ao tempo da guerra entre as FAPLA e FALA. Grande estratega e visionário. Assim, se percebe que seja um homem sem dificuldades de dizer o que pensa.
Para mim é gratificante ouvir alguém que se mostra sensível a ideia de justiça e da reforma social e que fala e pensa com a própria cabeça como raramente acontece entre nós. A entrevista tem a sua segunda parte marcada para o próximo programa. Talvez venhamos a saber as divergências que o levaram a abandonar as forças armadas e o MPLA e tornar-se num dos primeiros Almirantes que abandonou voluntariamente as mordomias reservadas aos generais em nome das suas convicções. Vale a pena acompanhar! Respect!
domingo, 16 de outubro de 2016
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